As pequenas vinícolas na Serra Gaúcha estão causando uma revolução na produção de vinhos finos. Antes preocupados em comercializar a maior parte da produção de uvas a vinícolas maiores, alguns produtores da região perceberam que poderiam obter um lucro muito maior a partir da própria elaboração de vinhos e, principalmente, dispor exemplares de excelente qualidade no mercado.
Esta foi a visão de Márcio Brandelli, enólogo e diretor da vinícola Almaúnica, localizada em Bento Gonçalves/RS, que se desfez de uma sociedade em uma conceituada vinícola na região para iniciar a produção de seus próprios vinhos. Hoje os varietais são elaborados a partir dos oito hectares de vinhedo e, posteriormente, a intenção do enólogo é chegar a 20 ha, o que deve representar uma produção de aproximadamente 120 mil garrafas.
“Nossa vinícola já está totalmente equipada com o que há de mais moderno em equipamentos e foi construída para se aplicar o sistema gravitacional de elaboração. As uvas são submetidas a duas seleções, a primeira manualmente no vinhedo e a segunda na vinícola, sendo que após o desengace os grãos são selecionados manualmente numa mesa vibratória de aço inox”, explica Brandelli.
Em apenas três anos de existência da Almaúnica, o resultado de muito estudo e experiência de 17 anos neste ramo proporcionou ao enólogo disponibilizar varietais de excelente qualidade. Para a safra deste ano, Brandelli destaca que os melhores exemplares são o Reserva Syrah, o Reserva Merlot, o Reserva Cabernet Sauvignon e o Reserva Malbec. “Futuramente, a uva Merlot será uma das nossas mais importantes”, avalia o diretor da vinícola.
No evento da 19ª Avaliação Nacional dos Vinhos – Safra 2011, que aconteceu no dia 24 de setembro, em Bento Gonçalves/RS, um dos grandes destaques foi o varietal Syrah da Alamaúnica, com previsão para ser lançado no segundo semestre de 2012. Brandelli destaca que este exemplar encontra-se em barricas 50% francesas e 50% norte-americanas de primeiro e segundo uso, com grande complexidade de aromas, cor intensa e 13,5% de graduação alcoólica. O potencial para guarda fica entre seis e oito anos.
Vinho Pinotage e espumantes:
Assim como a Almaúnica, a vinícola Larentis, também localizada em Bento Gonçales/RS, vem apresentando vinhos de qualidade superior. Com apenas dez anos no mercado, o diretor comercial André Larentis destaca como carro-chefe deste ano o vinho varietal Pinotage, lançado há três meses. Essa é a primeira safra desta variedade no sistema de condução espaldeira, com menor produção por hectare. “Realizamos trabalho de manejo para retirar os brotos em excesso, realizando desfolhas nas áreas do cacho e ainda raleio de cachos para o controle de produção, que ficou em apenas 8 mil quilos por hectare”, comenta o diretor comercial. As mudas desta variedade vieram da África do Sul na década de 90.
Além do Pinotage, a vinícola aposta em outros varietais. Para isso, a Larentis lançou as variedades Chardonnay, Merlot e Cabernet Sauvignon da safra 2011 em embalagens modernas, com o intuito de atrair o público jovem. Segundo Larentis, outras variedades também devem impressionar, como a Ancellotta e a Marselan, que se adaptaram muito bem na região e estão apresentando resultados excelentes como vinhos de guarda.
Recentemente, a Larentis lançou dois espumantes: Moscatel e Brut. Com produção limitada, as 10 mil garrafas de espumantes produzidas anualmente correspondem a 20% do total da produção em garrafas da vinícola. O crescimento, se comparado ao ano passado, foi de 15% e já prevê um incremento de 20% para 2012, o que demonstra o aumento do consumo da bebida.
Denominação de Origem no Vale dos Vinhedos:
Os exemplos da Almaúnica e da Larentis são um retrato do aperfeiçoamento na produção de vinhos. E uma das vantagens é o novo mapa da Indicação Geográfica do Vale dos Vinhedos, que busca identificar as áreas de cultivo de uvas para tornar mais precisa a localização cartográfica das vinícolas com produção certificada para a Denominação de Origem. O projeto da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale) conta com a parceria da Embrapa Uva e Vinho do Departamento de Geografia da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Conforme o presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), Christian Bernardi, reeleito recentemente para mais um mandato à frente da entidade, a Denominação de Origem foi um salto muito importante para todo o setor vitivinícola. “O primeiro passo foi estabelecer um regramento maior sobre uma determinada região, servindo de balizador para o consumidor experimentar uma nova marca que esteja rotulada com a D.O. do Vale dos Vinhedos. Além disso, o processo concluído de forma inédita no Brasil - esta é a primeira D.O. vinícola do país - servirá para muitas outras regiões, que apresentam condições distintas e únicas, de também poderem registrar suas DO's”, avalia o presidente da entidade.
Bernardi acrescenta que a cultura dos vinhos irá crescer ainda mais no Brasil, tendo como base o surgimento de novas regiões produtoras e, consequentemente, o desenvolvimento de novos polos de consumo, cada qual com suas particularidades. Hoje a Aprovale reúne 31 vinícolas associadas.
Em diferentes regiões produtoras de uvas e vinhos no Rio Grande do Sul, o número de vinícolas que nascem não para de crescer. O cadastro vinícola elaborado pelo Ministério da Agricultura e pela Secretaria da Agricultura do Estado mostra que, nos últimos dez anos, houve um aumento de 70% no número de estabelecimentos neste ramo, o que representa o surgimento em média de três novas vinícolas por mês. O cadastro totaliza 751 empresas espalhadas pelo Estado.