domingo, 11 de dezembro de 2011

Pequenas vinícolas na Serra Gaúcha focam na qualidade dos vinhos



As pequenas vinícolas na Serra Gaúcha estão causando uma revolução na produção de vinhos finos. Antes preocupados em comercializar a maior parte da produção de uvas a vinícolas maiores, alguns produtores da região perceberam que poderiam obter um lucro muito maior a partir da própria elaboração de vinhos e, principalmente, dispor exemplares de excelente qualidade no mercado.

Esta foi a visão de Márcio Brandelli, enólogo e diretor da vinícola Almaúnica, localizada em Bento Gonçalves/RS, que se desfez de uma sociedade em uma conceituada vinícola na região para iniciar a produção de seus próprios vinhos. Hoje os varietais são elaborados a partir dos oito hectares de vinhedo e, posteriormente, a intenção do enólogo é chegar a 20 ha, o que deve representar uma produção de aproximadamente 120 mil garrafas.

“Nossa vinícola já está totalmente equipada com o que há de mais moderno em equipamentos e foi construída para se aplicar o sistema gravitacional de elaboração. As uvas são submetidas a duas seleções, a primeira manualmente no vinhedo e a segunda na vinícola, sendo que após o desengace os grãos são selecionados manualmente numa mesa vibratória de aço inox”, explica Brandelli.

Em apenas três anos de existência da Almaúnica, o resultado de muito estudo e experiência de 17 anos neste ramo proporcionou ao enólogo disponibilizar varietais de excelente qualidade. Para a safra deste ano, Brandelli destaca que os melhores exemplares são o Reserva Syrah, o Reserva Merlot, o Reserva Cabernet Sauvignon e o Reserva Malbec. “Futuramente, a uva Merlot será uma das nossas mais importantes”, avalia o diretor da vinícola.

No evento da 19ª Avaliação Nacional dos Vinhos – Safra 2011, que aconteceu no dia 24 de setembro, em Bento Gonçalves/RS, um dos grandes destaques foi o varietal Syrah da Alamaúnica, com previsão para ser lançado no segundo semestre de 2012. Brandelli destaca que este exemplar encontra-se em barricas 50% francesas e 50% norte-americanas de primeiro e segundo uso, com grande complexidade de aromas, cor intensa e 13,5% de graduação alcoólica. O potencial para guarda fica entre seis e oito anos.

Vinho Pinotage e espumantes:

Assim como a Almaúnica, a vinícola Larentis, também localizada em Bento Gonçales/RS, vem apresentando vinhos de qualidade superior. Com apenas dez anos no mercado, o diretor comercial André Larentis destaca como carro-chefe deste ano o vinho varietal Pinotage, lançado há três meses. Essa é a primeira safra desta variedade no sistema de condução espaldeira, com menor produção por hectare. “Realizamos trabalho de manejo para retirar os brotos em excesso, realizando desfolhas nas áreas do cacho e ainda raleio de cachos para o controle de produção, que ficou em apenas 8 mil quilos por hectare”, comenta o diretor comercial. As mudas desta variedade vieram da África do Sul na década de 90.

Além do Pinotage, a vinícola aposta em outros varietais. Para isso, a Larentis lançou as variedades Chardonnay, Merlot e Cabernet Sauvignon da safra 2011 em embalagens modernas, com o intuito de atrair o público jovem. Segundo Larentis, outras variedades também devem impressionar, como a Ancellotta e a Marselan, que se adaptaram muito bem na região e estão apresentando resultados excelentes como vinhos de guarda.

Recentemente, a Larentis lançou dois espumantes: Moscatel e Brut. Com produção limitada, as 10 mil garrafas de espumantes produzidas anualmente correspondem a 20% do total da produção em garrafas da vinícola. O crescimento, se comparado ao ano passado, foi de 15% e já prevê um incremento de 20% para 2012, o que demonstra o aumento do consumo da bebida.

Denominação de Origem no Vale dos Vinhedos:

Os exemplos da Almaúnica e da Larentis são um retrato do aperfeiçoamento na produção de vinhos. E uma das vantagens é o novo mapa da Indicação Geográfica do Vale dos Vinhedos, que busca identificar as áreas de cultivo de uvas para tornar mais precisa a localização cartográfica das vinícolas com produção certificada para a Denominação de Origem. O projeto da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale) conta com a parceria da Embrapa Uva e Vinho do Departamento de Geografia da Universidade de Caxias do Sul (UCS).

Conforme o presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), Christian Bernardi, reeleito recentemente para mais um mandato à frente da entidade, a Denominação de Origem foi um salto muito importante para todo o setor vitivinícola. “O primeiro passo foi estabelecer um regramento maior sobre uma determinada região, servindo de balizador para o consumidor experimentar uma nova marca que esteja rotulada com a D.O. do Vale dos Vinhedos. Além disso, o processo concluído de forma inédita no Brasil - esta é a primeira D.O. vinícola do país - servirá para muitas outras regiões, que apresentam condições distintas e únicas, de também poderem registrar suas DO's”, avalia o presidente da entidade.

Bernardi acrescenta que a cultura dos vinhos irá crescer ainda mais no Brasil, tendo como base o surgimento de novas regiões produtoras e, consequentemente, o desenvolvimento de novos polos de consumo, cada qual com suas particularidades. Hoje a Aprovale reúne 31 vinícolas associadas.

Em diferentes regiões produtoras de uvas e vinhos no Rio Grande do Sul, o número de vinícolas que nascem não para de crescer. O cadastro vinícola elaborado pelo Ministério da Agricultura e pela Secretaria da Agricultura do Estado mostra que, nos últimos dez anos, houve um aumento de 70% no número de estabelecimentos neste ramo, o que representa o surgimento em média de três novas vinícolas por mês. O cadastro totaliza 751 empresas espalhadas pelo Estado.